sexta-feira, 17 de junho de 2011

Deixei a porta entre-aberta. Num ápice subiste a escadaria que, às vezes, parece interminável. Lembro-me de te ver a entrar de rompante,de t-shirt preta e com um ar angustiado. Reparei logo que não tinhas o cabelo meticulosamente penteado, talvez tivesse sido a pressa de chegar que não te deixou, com a maior das perícias, proceder aquele gesto tão habitual.

Chegaste até mim. Eu sorri-te, como se de um dia normal se tratasse, mesmo sabendo que os meus olhos não sabem mentir (e muito menos a ti). Apertaste-me com força, mas tentar acalmar alguém que está completamente apático é sem dúvida uma tarefa mais complexa do que parece.

Fugi pelo meio dos teus braços em direcção à sala. "Antes de ir embora tenho que arrumar a casa". Queria adiar aquele momento e por isso qualquer coisa servia para me manter mais tempo dentro daquelas paredes. "Não é melhor irmos e depois fazes isso?". Dizias, enquanto me fitavas com um olhar carinhoso e preocupado. Aquela indiferença toda mexia contigo. "Eu estou bem, já sabes que não gosto de deixar as coisas desarrumadas". E continuei, assim, na minha lide, até já não saber mais o que inventar. "Vamos?". Preferia continuar a fugir à realidade, mas como era inevitável mordi os lábios para prender o choro. Bati a porta e seguimos. As pernas mal sabiam dar forma aos passos. Ia a tremer, mas não ia sozinha.


Afinal, não são só as coisas más que ficam.

1 comentário:

Catarina disse...

"canto desenhado a lápis de cera" *