domingo, 28 de novembro de 2010

Estória

Segreda-me ao ouvido, baixinho e devagar. Segreda-me de leve, com carinho e doçura. Conta-me aquela estória. Diria que já não adormeço com ela a ecoar nos ouvidos há tempo demais. Ainda não sabia ler, era por isso que eras tu, que com delicadeza, abrias o livro. Repetidamente, rotineiramente, embalavas-me com uma aventura que já parecia minha. E eu, repetidamente, rotineiramente, adormecia, mesmo sem muitas vezes chegar a ouvir o final.
Já sei que cresci, aliás, crescemos os dois, mas há coisas que não deviam mudar. Podias vir, de mansinho, segredar-me ao ouvido aquelas palavras, que apesar de já saber de cor, me parecia sempre novas, sempre diferentes. Entusiasmava-me aquela estória, apesar de ser sempre a mesma.
Agora, mesmo que não penses o mesmo, o problema não está em me ter cansado de ouvir aquelas palavras, todos os dias. O problema está em me teres deixado de contar, baixinho, devagar, com carinho e doçura, aquela estória.

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