sábado, 5 de junho de 2010

Casa

- Mamã, porque é que vamos mudar de casa?
- O nosso tempo nesta acabou, meu querido.
- Mas eu queria ficar.

Ela tentou disfarçar. Tentou fingir que não ouviu. Simplesmente não lhe queria responder. Não ter que lhe dizer que ela também queria ficar.

Torna-se complicado explicar a uma criança de cinco anos que vai mudar de casa. De amigos, de cidade. Explicar que o quarto vai ser diferente. Os brinquedos já não vão estar na mesma estante. E se ele fizer birra porque simplesmente não quer? Porque é uma criança e sente que tem todo o poder para dizer "não", porque não.
E ela?
Ela bem queria transparecer que era o melhor para eles. Que as oportunidades naquela cidade se tinham esgotado, e a melhor solução era partir. Ela bem queria parecer serena, calma. Muito menos queria que ele notasse que a voz dela tremia. Torna-se complicado explicar a um adulto de 25 anos que vai mudar de casa. De amigos, de cidade. Explicar que o quarto vai ser diferente. O cheiro da cidade, que já sabia de cor, não se vai fazer sentir.
Há uma dada altura em que reparamos que as coisas não nos pertencem. Aquela casa era apenas alugada, pena ela se ter afeiçoado demais. Pena se ter envolvido demais.

"Nós somos o sítio que nos faz falta." Ou muita falta.

2 comentários:

Gininha * disse...

Como sempre, gosto muito daquilo que escreves*

E sim, "somos o sítio que nos faz falta"

:')

E* disse...

Amei*